segunda-feira, 4 de abril de 2011

Promoção

Depois de tanto trabalho e dedicação aliados a uma disciplina impecável em seus estudos, Carlos se deu conta que tudo o que fez nos últimos anos haveria de valer a pena. Este pensamento tomava conta de si por completo ele havia recebido um convite da diretoria da empresa em que trabalhava para tornar-se um sócio.

Carlos sempre foi um homem que demonstrava muita obstinação, desde que começou a trabalhar o pensamento de chegar ao topo o possuía. Entrou para a empresa como entregador, neste período já cursava a faculdade de Economia, passou por tempos difíceis, antes de entrar para a Universidade era garçom, trabalhava a noite inteira e estudava ao dia. Como ele dizia “isso é tudo o que eu quero para a minha vida” e, como se seu pensamento se profetizasse decorridos sete anos de empresa, tornar-se-ia um sócio.

Após sair do trabalho foi para a casa. Carlos morava em um apartamento a cinco quadras do trabalho, apesar da proximidade ele sempre ia para o trabalho em seu carro. Como a data merecia comemoração passou por uma loja de bebidas e comprou um espumante de alta qualidade para celebrar (nesta altura, já tinha um bom salário que o garantia certos caprichos). Quando chegou a sua casa deu-se conta que teria de comemorar sozinho.

Com o passar do tempo o trabalho foi exigindo cara vez mais dele e de seu tempo, não fazia mais amizades como antigamente e cada vez mais se distanciava das antigas, além do mais, sua família residia em outra cidade e estado, estado que o deixava cada vez mais sozinho.

Ao abrir sua bebida pensou sobre os seus últimos anos e de como seus valores foram distorcidos até que não pudesse distinguir quem realmente era e o que realmente importava para sua vida. Pensou no momento em que havia perdido de si mesmo, mas já não lembrava quando isso acontecera. As escolhas que acontecem em vida passam por ‘ameaças externas’ que passam a cada vez mais a agir sobre os pensamentos, em decorrência, as ações são tomadas por dúvidas, até que se chega á um ponto que não se dá mais conta sobre os seus pensamentos, eles já são donos de si. Carlos deu-se conta do que estava a passar, corou. Neste momento pensou em que talvez pudesse ter se encontrado novamente.

Foi para o quarto. Seu quarto refletia sua vida, tudo em seu devido lugar e disposto como deveria ser. Abriu sua gaveta e pegou um antigo álbum de família. Nessa altura o álbum de fotografias encontrava-se empoeirado na sua ultima gaveta de seu armário, neste momento notou que tudo o que estava priorizando já não parecia valer tanto e que o que estava a colocar nos cantos era o que realmente valia algo.

Viu uma foto em que estava com toda a sua família, estava ali com seis anos de idade e com nenhuma malicia no olhar, tratava-se de uma foto típica de família em que todos se juntavam após o almoço de domingo e batiam a foto aparentando a maior felicidade do mundo. Lembrou se do tempo em que o que realmente importava era o simples fato de estar ao lado das pessoas que ele gostava e, não esta realidade mórbida que o perscrutava em que a valorização pessoal era o ‘magnum opus’ da sociedade.

Era de costume protocolar todas as suas atitudes e tratar para que a sua imagem fosse boa para os outros, independente de sua essência, essência esta, que já estava perdida há tempos, essência que já não mais existia. Resolveu que o cargo que tanto o procurava já não valia tanto para ele, comprou uma passagem e resolveu visitar seus velhos amigos e sua família.

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