sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

AIDS, Preservativo, Sexualidade

Trecho da entrevista do papa Bento XVI ao jornalista alemão Peter Seewald no livro intitulado Luz do Mundo.


PS: Sua visita à África, em março de 2009, mais uma vez chamou a atenção dos meios de comunicação sobre a política do Vaticano em relação à AIDS. Vinte e cinco por cento dos doentes de AIDS em todo o mundo, hoje, são acompanhado por instituições católicas. Em alguns países, como, por exemplo, em Lesoto, os doentes de AIDS representam mais de quarenta por cento da população. O senhor declarou que, na África, a doutrina tradicional da Igreja revelou-se o único meio seguro para deter a difusão do HIV. Os críticos também no interior da Igreja, defendem, ao contrário, que é uma loucura proibir a uma população ameaçada pela AIDS o uso de preservativos.

B: Do ponto de vista jornalístico, a viagem à África foi totalmente obscurecida por uma única frase minha. Perguntaram-me por que a Igreja Católica, no que diz respeito à AIDS, assumia uma posição irrealista e ineficaz. Assim, senti-me com que desafiado, porque a Igreja faz mais do que todos os outros. E continuo a afirmá-lo; porque a Igreja é a única instituição verdadeiramente próxima das pessoas, muito concretamente: no prevenir, no educar, no auxiliar, no aconselhar e no estar ao lado; e porque, como ninguém mais, cuida de tantos doentes de AIDS e, em particular de inúmeras crianças atingidas por esta doença.

Pude visitar uma destas estruturas para os doentes de AIDS, e encontrei os doentes, e me disseram isto: a Igreja faz mais do que os outros porque não fala somente pelos jornais, mas ajuda os irmãos e irmãs no lugar. Dizendo isto, não havia tomado posição acerca do problema dos preservativos. É preciso fazer muito mais. Devemos estar perto das pessoas, orientá-las, ajudá-las, e isto também antes que adoeçam.

A verdade é que os preservativos estão à disposição em toda parte: quem os quer, logo os encontra. NO entanto, somente isto não resolve a questão. É preciso fazer mais. Entrementes, também em âmbito secular, desenvolveu-se a chamada teoria ABC, sigla para "Abstinence - Be Feithful - Condom"; ao passo que o preservativo é visto somente como escapatória, quando faltam os outros dois elementos. Isto quer dizer que concentrar-se somente no preservativo significa banalizar a sexualidade, e esta banalização representa justamente a perigosa razão pela qual tantas e tantas pessoas já não veem na sexualidade a expressão de seu amor, mas apenas um tipo de droga, que consomem sozinhas. Por isso, também a luta contra a banalização da sexualidade faz parte do grande esforço a fim de que a sexualidade seja valorizada positivamente e possa exercitar seu efeito positivo sobre o ser humano em sua totalidade.

Pode haver casos individuais justificados, por exemplo, quando uma prostituta utiliza um preservativo, e isto pode ser o primeiro passo para um moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver, de novo, a consciência do fato de que nem tudo é permitido, e que não se pode fazer tudo o que se quer. Todavia, este não é o verdadeiro e adequado modo de vencer a infecção do HIV. É verdadeiramente necessária uma humanização da sexualidade.

PS: Isto significa, portando, que a Igreja Católica não é fundamentalmente contrária ao uso de preservativos?

B: Naturalmente a Igreja não considera os preservativos como a solução autêntica e moral. Casualmente, com a intenção de diminuir o perigo de contágio, pode representar, no entanto, um primeiro passo pelo caminho que leva a uma sexualidade vivida diferente, mais humana.

SEEWALD, Peter; Luz do mundo: o papa, a igreja e os sinais dos tempos. Ed. Paulinas, São Paulo, 2011, p. 147-149.

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